Um blog para todos e todas publicarem suas poesias, artigos, historias e contos esquecidos em gavetas e entregues às traças. Aqui eles serão lidos e cumprirão enfim sua finalidade. Além disso, postaremos adaptações de livros para o cinema, as quais serão disponibilizadas para download. Para você postar nesse blog basta fazer um comentário na última postagem deixando seu email.
domingo, 30 de outubro de 2011
Musa - Relbier Oliveira
terça-feira, 25 de outubro de 2011
O Santo - Relbier Oliveira
“Um dia, eu estava sentado no meio do caminho, como de costume, pedindo dinheiro, como de costume, me sentindo um lixo pior do que as guimbas esfoladas pelos sapatos apertados dos transeuntes apressados com suas vidas, quando eis que uma pessoa se aproximou de mim. Não vi direito quem era. De que me importaria: acaso conheceria? Faria distinção entre as diferentes feições e estilos e vaidades e egocentrismos que geralmente passam por aqui onde os lixos se acumulam? Estranho, não me incomodei com sua presença”.
“Em condições normais, eu faria cara feia, apesar da esmola. Se viesse falar, então! Me dar sermão, me dar conselhos, falar de Deus... vixi! Era de cusparada a palavras de baixo calão”.
“Sangue no zói até umas horas. Porque é assim: não sou melhor que ninguém, é verdade, mas cansei de ser usado de figurante na foto de Bom Samaritano. Você sabe que, no fundo, a única piedade é com eles mesmos, pelo sacrifício que estão fazendo vindo falar essas coisas, vindo querer dizer que somos iguais, que eles não veem distinção, e o caralho”.
“Posso me sentir malzão depois. Pô, um dia eu já tive dignidade, sei como é. Mas, meu: não tenho mais nada a perder. Se quiser, depois, eles sabem onde eu durmo, onde eu me escondo. Coisa que não falta é gente pra fazer mal nesse mundo. E sabe como é que é, né: a gente tá aqui pra isso mesmo. Pra morrer e dar graças a Deus. É o melhor que há, é um presente. Mas o seguinte, eu vim pra cá já sabendo dos riscos, sabe qual é? Na verdade, eu quis largar tudo, sair dessa porra. – Porra, meu, emprego de merda desde os oito anos, desde que eu me entendo por gente... se é que eu já fui gente alguma vez nessa vida. Meu, muié relaxada! Porquera! Nojera! Os fi tudo virando tranquera, querendo bater na gente. Depois de todo o caralho que eu fiz pra eles. Meu, passei fome pra tentar dar um futuro melhor pra eles, e é assim que eles agradecem? Ai vem um filho da puta desses me dizer chavão. Ah! Vá pra puta que o pariu! Irrita mesmo, meu, de boa. Tá! A intensão pode até ser boa. Mas, como dizem, dela o inferno tá cheio”.
“Meu, foi mais ou menos assim: não era bem uma pessoa, era uma presença, sei lá. Tinha uma mão. Mas não era bem uma mão, manja?! Eu não sei explicar. Sei lá, cara, parece que tudo à minha volta perdeu a importância, tinha importância mínima, manja?! Sabe, tipo: a mente ficou vazia, velho... E eu não tinha tomado nada, não tinha fumado nada. Cheirado? Vixi, nem sei mais o que é isso: falta capital, sabe qual é? Cara, eu não sei explicar. Foi sinistro. Foi bom, velho, foi bom... foi bom pra caralho. Tipo, essa vida de merda toda fez todo o sentido. Manja, tipo... um copo? Mais ou menos assim a parada... Não, uma garrafa, daquelas toda retorcida. Ai você põe a água e ela se preenche toda, e faz sentido. Sabe, estar em todos os lugares ao mesmo tempo sem sair do lugar, sem estar em nenhum... Sem corpo, sem raça, sem identidade, sem essas paradas toda ai, sem caralho nenhum. Tipo, muita velocidade... muita! Um calor que não queima, que aquece, que conforta. Uma luz de todas as cores, num brilho alaranjado... Me lembrava um circo. Cara, eu nunca fui num circo. Eu nunca vi um elefante, uma girafa, mas elas tavam lá. Sabe, o tempo... durou minha vida toda e mais: o tempo que eu ainda nem vivi e o que eu nunca viverei, o antes o depois o agora, e o quarto. É, o quarto, manja? O que está ainda além. E eu só segurei aquela mão, velho. Ele disse “vem comigo”, e eu não fui, manja? Por que eu não fui, brow? Por que eu não fui? Aqui ninguém me dá valor. Olha ai onde estou, jogado na merda, tendo que fumar guimba usada, dessas bocas fididas, nojentas... boca de buceta suja. Ah! Toma no cu, brother. O que que eu ainda queria fazer aqui, jovem, diz ai? Eu não sei, sérião mesmo, eu não sei... Ter que esperar o próximo, agora, meu! Já era. Se pá, sorte assim só uma vez na vida. Eu troco meu bilhete premiado da Mega Sena, que tá aqui no bolso, por outra chance, manja? Mas não sei, doido... não sei. Acho que, se pá, eu faria tudo de novo, tudo do mesmo jeito, sabe? Chegaria lá, de novo, em cima da hora, pra chutar pro gol, e pararia. Por que, brother? Por quê? Cara, eu não tinha isso. Foi depois dessa parada ai que eu fiquei assim. Sei lá, parece que eu aprendi a gostar de mim. É estranho. Sei lá, é como se eu estivesse com o bolso cheio de dinheiro... É mais. É mais que isso. Manja um carro? Tipo assim, um 147... Pô, muito loco, eu sempre quis ter um desses ai. Mas pensa em um zuado, bem zuadão mesmo. Então, sei lá: de repente você empurra ele num lava-a-jato (empurra, né, porque o coitado não deve tê nem mais motor, de tão zuado que tá), ai sai do outro lado uma Ferrari, novinha, com o Ronaldinho e tudo. Vixi, cara, o bagulho é loco. Mas, meu, sabe, eu não sei explicar. Então, o 147 era eu, manja? Essa parte você entendeu, né? Tipo, eu quero estar aqui. Pode estar ruim o quanto for, eu quero estar aqui. Não que sei lá onde eu ia ir fosse pior, mas eu quero estar aqui agora. Talvez antes eu quisesse qualquer coisa, melhor, pior, qualquer coisa. Talvez a morte, sei lá. Mas agora não, agora eu quero estar aqui. Sei lá porque, jovem... Tipo, e é isso o que me intriga. Dá vontade de sair, pular, cantar, só de lembrar... Meu, só de lembrar. É que, contando, assim, não dá pra você entender direito, manja? Ah! Sei lá, brother. Mas, apesar de tudo, estou cansado, chato, velho e ranzinza. Desculpa ai, vai... Você deve tá achando que eu sou doido, sei que tá. Mas, dá nada não, meu. Eu tô em paz agora, tô na minha. Sei o que vi, mas te entendo, brow. Seguinte: fica com Deus, ai, amigo. Vô indo nessa. Quero meu colchão. Depois a gente se fala. Te cuida! Fui!”.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Loucura. Hoje, Felicidade - Bianca Squarisi
Hoje devo dizer tudo o que sinto, Ainda que ache que não deva, Ainda que transcenda todos os valores, Ainda que cale toda a mentira... Hoje devo ser o que sou, Sem me esconder atrás da sanidade e da normalidade... Hoje quero gritar ao mundo tudo o que acho certo, Que acho belo... Hoje vou dizer o que calei, Gritar o que sussurrei, Amar o que omiti, E querer o que não se deveria... Hoje vou viver, Hoje estou aqui, Hoje e agora... Agora é a hora! É a hora de tomar aquela decisão, Sem medo que seja cedo, Sem medo que seja tarde, É hora de esquecer os medos e os receios... Hoje serei toda a insanidade omitida por bem do mundo... Mas que há em cada um de nós... Hoje serei feliz... E a felicidade nada mais é do que libertar toda essa loucura... Pois a verdadeira felicidade poderá ser encontrada no mesmo abismo da loucura!
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Ser-Poeta - Relbier Oliveira
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Carta a um eu cindido (ainda não novo amigo) - Relbier Oliveira
Eu não quero que gritem comigo como se eu fizesse isso por puro capricho. Há não muito, aprendi a observar as pessoas no intuito, quase que inconsciente, de aprender com elas como se viver, como se comportar. Mas veio, com isso, inevitavelmente, a inveja, e reminiscências da minha infância me questionando em que parte do percurso me desviei, e o que determinou que fosse assim. Remonto, por vezes, a causas que estão aquém inclusive do meu nascimento, talvez anterior mesmo à minha concepção; algo da ordem do invisível, mas real: ainda cientifico. Não quero mais ficar sozinho, mas nunca soube fazer de outra forma. O que me fez ser assim? Tudo o que perdi e o que perderei, valores inestimáveis. Algo fica? Algo se ganha, para compensar? Não consigo deixar de pensar que sou muito desadaptado; que é quase como se fosse uma sentença, pior do que perpétua: eterna. Condição sine qua non da minha existência. A cada passo, o peso do fardo se mostra inversamente proporcional à distância que me resta; consequentemente, não conseguirei chegar ao fim, apesar de estar cada vez mais perto. Mas, caminha-se para aonde, afinal? Caminha-se no sentido do movimento, na inércia. A questão sobre o destino parece estéril quando se sente que não se vai chegar, seja aonde for. É como se fosse um jogo da natureza, e eu, enquanto só mais uma peça, não fosse mais importante para qualquer estratégia, e estivesse condenada. O peso, na verdade, então, é a tensão do prenúncio do fim: os passos do carrasco, o engatilhar das armas, o rosto pálido dos normais, a indiferença da criança distraída com seu brinquedo aos pés dos pais atentos. Genética, sociedade, dinheiro, já não significaria nada para mim se os pudesse ter todos. Um compra o outro, é quase verdade, mas já não os saberia usar em favor da minha causa a essa altura do campeonato. Tudo ficou tão complexo que já se formou em mim a dúvida de se se sair teria algum alento. Já à beira da confusão total, do desespero. O ambiente me controla, sou joguete. Não sei mais o que pensar. Não consigo ver sinais que indiquem alternativas, é tudo categórico. Um complô, uma paranoia. A bandeira da ansiedade deve estar sendo hasteada na capital, a guerra chegou ao fim! Fumem um cigarro, declamem uma poesia. Pensem naquele amor, qualquer amor, mesmo os não correspondidos, os inexistentes, os fingidos, os impostos, os delírios. Pense que a missão foi concluída, ainda que, na verdade, pois, tenha sido falida. Pense no descanso, na paz, na tranquilidade, palavras borradas no seu vocabulário, sem imagens, sem sentido, que só se usa pelo seu valor formal, estético, tal qual o amor. Não, não queira se despedir, já não há eles, já não há aliados, nunca houve. Amigos, famílias: para você, tudo ilusão. Deixe tudo para trás e vá, siga seu coração. Sua mente é terra arrasada, mas seu coração ainda bate, desde sempre, como nunca, cada batida um novo impulso, sinal de vida. Mas não, não faça dele um fundamento. Apenas vá, o siga, e nada mais. Não olhe para trás ou acabará temperando carne de churrasco. Espero te encontrar em breve, quem sabe não possamos ser amigos. Me identifico com você, mas ainda estou preso, não posso partir. Ainda sou escravo, ainda presenteio o meu algoz com meus gritos, com minha dor. Mas não demora, amigo, estaremos juntos. Formaremos nosso clã, nossa tribo, nossa terra, e seremos, enfim, mais que potencialidades.
Até breve.
Ruínas da existência possível - Relbier Oliveira
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
A hora da Estrela
Macabéa (Marcélia Cartaxo) é uma imigrante nordestina, que vive em São Paulo. Ela trabalha como datilógrafa em uma pequena firma e vive em uma pensão miserável, onde divide o quarto com outras três mulheres. Macabéa não tem ambições, apesar de sentir desejo e querer ter um namorado. Um dia ela conhece Olímpico (José Dumont), um operário metalúrgico com quem inicia namoro. Só que Glória (Tamara Taxman), colega de trabalho de Macabéa, tem outros planos após se consultar com uma cartomante (Fernanda Montenegro). Baseado no livro homônimo de Clarisse Lispector.
Obs: Livre para sinopses melhores.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Marcas Passadas - Relbier Oliveira
Tudo não passou de uma obsessão doentia
Um vício de magia que não existe
O apelo a um destino escrito por quem?
A cadeira da máquina está vazia
Na verdade, sequer havia,
Era tudo ilusão.
Minha ingenuidade, na minha mocidade
Envolvia quem não devia nisso tudo
E ela não devia
Era ela a quem queria
Mas tudo projeção,
Tudo fraqueza do meu coração
Hoje arrependido dos erros, das burradas,
Não me reconheço lá atrás.
Sei que aquele eu determina o que serei.
Gostaria de voltar no tempo
E alterar a minha sorte
Não me reconheço mais.
Se te vires novamente, pedirei desculpas.
Mesmo sabendo que não adiantará:
É marca que nunca apagará
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Que Venha - Relbier Oliveira
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Rimas Pobres - Priss Aiuri (Com alterações)
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Sobre justiça e vingança - Roni dos Santos
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Os Planos de Um Suicida - Relbier Oliveira
Esse instrumento é o Oboé... Bem, já não me importa mais a luta por fazer sentido. Olhe onde estamos. Olhe bem para onde estamos indo. Gosto da suavidade do som. É uma melodia triste, melancólica. É Bach?! Gosto de Bach. Aquele era o meu fundamento: uma estranha luz alaranjada, quente, confortável: pacífica, como nossa cama em manhã fria, quando temos que acordar logo cedo para mais uma das várias obrigações que tomamos ou que se impõe a nós. O que estou fazendo agora? Jogo xadrez online com um velho desgraçado que, sabe-se lá Deus o que está fazendo mais, leva um ano para fazer uma jogada. Minhas jogadas, como sempre, são irrefletidas. Não levam mais que 1 minuto. Daí então o jogo passa a ser um tédio. Eu só sei mover as peças, costumo dizer. De minha perspectiva, esse jogo consiste em dar o máximo de trabalho possível para seu adversário capturar o seu rei. É a visão do rato: ele nunca está
É engraçado como nos acotovelamos nos ônibus e em outros espaços públicos e/ou coletivos. Digno de deixar qualquer cristão entristecido. Ou qualquer um que, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, fundou seu conjunto de valores, a construção do seu mundo, em cima de valores que, em qualquer (boa) medida, considera o humano. Não é estranho que qualquer coisa haja por necessidade, por implicação de alguma determinação anterior a ela, e assim por diante. Movemo-nos sempre por nossos interesses. Por que o sal de cozinha se dissolve de tal forma igualitariamente no meio aquoso? Por que a água do rio corre para o mar (ou, antes, para os lugares mais “baixos”?). O que significa o tal arco-reflexo de nosso corpo? O que é a fome, ou aquela sensação que nos incomoda a barriga? O que significa se remexer na cama durante a noite em busca da “melhor” posição? Onde estão as determinações mais íntimas, mais específicas? Aquelas, que não damos conta de apreender e compreender, e na qual armamos um circo de possibilidades? Entristece-me profundamente quando os valores das pessoas começam a se encrudecer, a criar forma, a se constituir. Pois então o mundo delas se forma também, e tudo o mais, todas as possibilidades, desaparecem. Tudo passa a responder mecanicamente ao padrão doravante estabelecido. Quero que descubram um dia que, de fato, eu não era belo, mas também que ninguém era mais belo do que eu. Quero que vejam que toda beleza que são capazes de encontrar no mundo, encontrariam também em mim, assim como todas as feiúras. Sabe por que eu gostava de Dragon Ball Z? Por que nele existiam espaços que não tinham donos, pessoas que eram diferentes e tinham suas diferenças respeitadas e consideradas. Identificava ali traço de humanidade, qual seja, a possibilidade na diversidade. Plano de Imanência... Fala sério, essas coisas todas eram invenções do Orlandi (e de quem em quem ele realmente viu sentido: qualquer um, menos Deleuze propriamente).
sábado, 30 de julho de 2011
O Bulling Institucional - Roni dos Santos
Existe no espírito do brasileiro uma coisa que agente chama de cordialidade. Esse comportamento consiste em apagar do meio cotidiano qualquer vertigem de disputa, agressão ou violência, as vezes pior que isso, supor que essas três coisas são iguais. O medo de qualquer perturbação e desordem aos valores sociais e a moral herdado da nossa falsa igualdade e democracia, permite que a nossa sociedade cometa as mais diversas formas de perversidade possível.
Por que eu estou dizendo isto? Quando eu era moleque, cursando o primário, não faltava quem gostasse de “tirar um barato” de mim, mas também foi assim que fiz muitos amigos. Naquela época como hoje, se você tinha a cabeça grande, o nariz grande, o pé grande, qualquer coisa grande, coitado. Se era branco demais ou simplesmente negro, “tadinho”! Qualquer diferença notadamente extraordinária, que inúmeras vezes vinha carregadas com um preconceito certamente trazido de casa e com contribuições da sociedade, você era uma vítima em potencial da “zoação”. No entanto, os mesmos moleques que “zoavam”, também eram “zoados”, e no fim da aula íamos jogar bola, tomar tubainas e ficar remoendo o infeliz apelido, até que aceitávamos o famigerado nome social para aquele meio. A diferença para os dias de hoje é que temos um nome bonitinho para isso, se chama bulling. Essa é a maior piada do século, por que se tem um lugar onde a estupidez de uma parcela limitada de pedagogos limitados se faz estúpida é na hora de aplicar práticas surgidas de outros contextos ao nosso contexto. Ao contrário do que se espera, identificar tal ato não inibe a prática, ainda por que o bulling identifica e normatiza o individuo que pratica uma determinada modalidade de violência contra outro individuo, ou seja, ela é antes de tudo um bulling das instituições pedagógicas contra os “maus alunos”. Mas quem nunca praticou um “bullingzinho”? Então somos todos “maus alunos”?Eu tô dizendo isto por que eu vi um moleque chamar uma menina de gorda, o que de certo é constrangedor, logo a direção da escola ficou ciente do ocorrido e quando foram chamar o menino para esclarecer o assunto, foram logo avisando, “cara, você cometeu um bulling”. De um momento para o outro o moleque era o maior criminoso do mundo, por um momento de fúria somado a todo o preconceito ensinado pela sociedade mais um aparelho institucional que tem por função normatizar, o moleque se fodeu. Na minha opinião, este é o bulling institucional, que é fazer do indivíduo aquilo que ele não é. Mas como é que se caracteriza o bullyng da maneira como vemos descrito cotidianamente, isto é, como ele é entendido pelas práticas escolares, mídia, formadores de opinião e gente sem ter o que fazer? O bulling se caracteriza pela prática de violência física ou psicológica em indivíduos ou grupos minoritários. Mas que tipo específico de violência estamos falando? Qualquer uma? A psicanálise define – grosseiramente da minha parte – pelo menos duas formas de violência: a ação que tenta destruir um determinado objeto de desejo e àquela que nasce pela diferenciação entre pessoas e grupos, que está muito mais ligado a disputa ou agressão. Podemos considerar que a primeira é destrutiva, por que ela é irracional, ela não destrói só o objeto, mas destrói o individuo que a alimenta, por que ela nunca terá fim. No caso da segunda, podemos situá-la em um campo construtivo, isso por que a disputa e a agressão também servem não somente para diferenciar os indivíduos, mas para colocá-los em relação direta e quem sabe para nomeá-los socialmente junto ao grupo, chamar pra jogar bola, tomar tubaína e outras coisas que pessoas fazem em grupo e não em bando, – a ideia de bando também é uma forma de sujeição, é a tentativa de descaracterizar a individualidade das pessoas que compõe um grupo, como de ladrões - ou seja, não é só a igualdade que aproxima, mas a diferença também.Portanto, se existe uma violência destrutiva, ela também parte das mais altas instâncias institucionais.O efeito do bulling é o exemplo clássico de que toda forma de disputa e diferenciação, independente que posição ela ocupe, tem de ser abolida. Não estou fazendo defesa da prática, mas se formos cuidadosos, podemos perceber que o sujeito que prática o bulling foi inventado. É o nosso medo de perturbação da ordem, é uma forma que os pedagogos têm para dizer quem é que pode disciplinar quem. Não se diferiu as diversas formas de violência em nome da violência institucional. Logo, inventou-se também uma forma de dizer o que é politicamente correto. Mas ao passo que nos indignamos com essa postura politicamente correta, a única opção parece ser a atitude politicamente incorreta, ou seja, o trote pelo trote, a piada pela piada, sem outros fins.O grande problema é que o politicamente incorreto também não supera a violência banal, ela traz consigo àquela carga de preconceito através da dominação e sujeição sobre o outro, ela é a outra face da mesma moeda, ou da nossa cordialidade. Ela não nasce da vontade de conhecer e integrar o outro, mas para satisfazer o próprio ego. Então aqui persiste o nosso espírito covarde, por que é uma postura que tende a tornar explicito aquilo que era implícito, ou seja, ele continua a destruir nosso objeto de desejo, mas agora com o rosto de uma mulher, de um gay, um negro ou qualquer ser diferente. Nosso espírito cordial também se manifesta quando aparece um vídeo na internet de um menino “gordinho” respondendo ao bulling que vinha sofrendo, deliramos de tesão e emoção nos sentindo representados pela reação do garoto, sentimento similar ao nosso desejo de vingança, vizinho do ressentimento, por que nos julgamos e somos incapazes de fazê-lo por conta, mas queríamos fazer, isto é, por um instante somos heróis sem ser, gozamos como pau dos outros.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Embate... - Arnaldo Silva
Na sua vida
Que tudo é perfeito
Tenho certeza…
O som vibrante
O perfume agradável
As formas são lindas.
De um lugar
De um momento
Ou até de um desejo
Assim passado e futuro
Travam uma luta desigual
Com o presente para tomarem seu lugar
Quem hoje ganhou a batalha
sábado, 23 de julho de 2011
Alguém para amar - Relbier Oliveira
Alguém para amar, queria Mercury (o Freddie). Dizia ele que apesar de ser amado por milhares de fãs, sempre se sentiu sozinho. Alguns dizem que o amor é como toda panela, para toda qual sempre há uma tampa; e assim, para cada pessoa há outra, a quem se amará e por quem será amado. “Você existe, eu sei”, dirá Bruno Gouveia: toda laranja partida tem sua metade complementar, todo chinelo velho acolhe justamente um pé cansado, e assim por diante. Saberes populares sobre um campo da vida humana poético, filosófico, científico, religioso e tudo o mais, o amor, ou as relações romântico-afetivas. A voz do povo é a voz de Deus. E quem sou eu para discutir com Deus? Na verdade, eu quero crer que ele está certo. Eu torço para que esteja certo, tenho fé e esperança nisso. O pedante arquiteto de nossa Matrix (que não é Deus, espero eu) diria que esta última, a esperança, é ao mesmo tempo nossa maior fraqueza como também fonte de onde emanam nossas maiores forças. Para não ter que ir muito mais além, seria essa a dialética que nos põe em movimento? Ou não, talvez seja isso reduzir demais a essência humana, radicalizando desnecessária e perigosamente o raciocínio – o que me faz lembrar um novo amigo, que tem esse defeito. Mas já nos afastamos demais do assunto primeiro.
Uma dúvida me tira o sono (eu, que estou solteiro [solteiro sim, porém sozinho nunca... aff!]); essa dúvida me lança em pesadelos, me faz delirar, suar e estrangular meu ursinho Puff com um forte abraço de pavor (sim, porque na minha época se chamava Ursinho Puff, e não Pooh!): pode mesmo, na vida, um indivíduo desgraçado passar ao largo da sua alma gêmea, tal qual Freddie? Porque o saber milenar exotérico da própria voz de Deus diz apenas que para cada qual há o seu, como naqueles diagramas de Venn. Não diz que o par necessariamente deva se encontrar na vida. Talvez seja meramente provável que eles devam se encontrar (e isso tudo porque não quero colocar em dúvida aquela afirmação [supostamente] proferida por Deus, da qual partimos).
Mas então, o que viria a determinar o desencontro dessas almas (ou, antes, seu encontro)? Quem decide pelo fim que terá essa dupla jornada? Somos nós, em alguma medida, responsáveis pelo o que virá a acontecer? Se eu ficar parado, escondido, em algum ponto solitário dessa terra, no mais longe que eu conseguir me refugiar, terei eu a sorte de esbarrar com minha metade? Por outro lado, haveria algo que eu pudesse fazer para otimizar esse desenlace?
Apesar de tudo o dito, enquanto tem uns que choram por não ter encontrado ninguém para amar, parece, de outro modo, haver outros que não só encontram seu complemento como também seu suplemento. E assim eu me pergunto: exceto aqueles casais romanceados de ficção (telenovelas, literaturas e fantasias juvenis), de única entrega na vida (e entrega mútua – oh, sei: tratam-se daquelas figurinhas que sempre faltam para fechar o álbum), acaso nos divertimos com a metade dos outros ou há mesmo alguns outros que vêm ao mundo para não terem metade? Que medo!
Parece, pois, tão tentador considerar que não haja regras para esses assuntos, mas seria pior, e eu quero acreditar. Se encontraram regularidade nos resultados advindos do lançamento de uma maldita moeda, por que não no amor? [Retórica].
Talvez a explicação para esse enrosco pseudointelectual, que vislumbra uma regra para os assuntos do coração, seja a seguinte: parece haver uma regularidade, as pessoas apenas ficam sozinhas se só quiserem um amor perfeito, do tipo ideal. A ideia desse tipo de amor, por sua vez, deve ser fruto de algum virgem que escrevia bem e tinha boa imaginação, mas que provavelmente nunca experimentou a desgraça que é se relacionar realmente com alguém. Essa maldição foi posta em todos os demais como uma cenoura amarrada na cabeça de um cavalo, estando ela a meio palmo da boca do infeliz, que a persegue faminto, cego e sem razão. Todos, a princípio, foram feitos para todos; e por intermédio de algumas contingências ambientais (bah!), moldaram-se e selecionaram-se os gostos. Quem pode mais chora menos, e assim por diante. Ou seja, a sua metade é fruto da surra que você levou da vida.
Mas não. Talvez essa revolta toda seja fruto de frustração, “máquina de fazer vilão”. E tudo começou porque o Freddie, assim como eu (e todo o mundo, provavelmente), queria ter alguém para amar. Pode ser que a culpa não seja do virgem. “Vai que essa ‘lenda’ do amor ideal não esteja dentro de todo o mundo desde sempre!”. E certamente uns e outros dirão “eu conheço alguém que viveu um amor assim”, ou, “eu vivo um amor assim!”. Eu espero, francamente, que isto seja verdade, que esta espécie de amor seja possível. Que seja a esperança motor das minhas maiores forças; que a voz do povo seja a voz de Deus, e que portanto eu ache a minha metade da laranja. Pois dói só de pensar que o que sobrou pra mim foi só “o bagaço da laranja”.
OBS: Por favor, respeitem a minha metade da laranja: não faça com a metade dos outros o que você não quer que façam com a sua!
terça-feira, 19 de julho de 2011
Quandos - Relbier Oliveira
Eu sou
O seu passado distorcido
Seu futuro
Sou seu tudo
Eu quero
Que pelo menos fosse desta vez
E faço o que sei fazer
Tudo quanto quero ser
Basta eu quero e eu sou
Juízo! Escondido com medo da chuva lá fora
Duvido! Que você possa saber
o que eu estou sentindo agora
Eu sou seu futuro
Eu quero e faço o que sei fazer
Tudo quanto quero ser
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Propriamente Dito - Relbier Oliveira
Quando a noite cai e o silêncio de nós mesmos vem nos conversar
A impressão que dá é que nunca vi mais gordo
E a saudade do que não aconteceu:
Uns chamam de fraqueza
Eu, como Lulu, digo: que seja fraqueza então!
Minha pessoa com muito a fazer
Mas quem vai fazer por ela? Quem?
Meus nervos, meus músculos; minha carne, minha alma:
Eu todo tremo e me espremo
Mas não uno necessariamente o que sinto com palavras
Para não pegar-me [a mim mesmo] desmentindo a mim
Por qualquer figura de linguagem
E fim.