quarta-feira, 8 de maio de 2013

A Sagrada - Relbier Oliveira



A mulher entrou aflita procurando por refúgio, procurando por abrigo. Falou como se não fosse ela; falou como se interpretasse. Disse algo de si mesma de tal modo travestido, encoberto, que terminaram por entender outra coisa, e até ela mesma: não se reconhecia expressa nas próprias palavras. Zombou de si acanhada e pensou "vou escrever um livro". Foi o que fez; um livro curto, poucas palavras, direto. Mas com uma profundidade tão grande que ela viu mais do que a si mesma ali refletida, pensava enxergar também a humanidade, cada uma das pessoas. Agora estava satisfeita. Mas, apesar disso, ainda queria mais: queria a glória, o reconhecimento. Achava-se arauto de um novo tempo, de esperança. Achava-se um tipo de profeta, ou, antes, um anjo. O nome do seu pequeno livro seria "A Sagrada".