Com uma caneta e um caderno em mãos
Numa paisagem não tão singular, mas cativante
Apesar das coisas que sinto, escrever coisas belas
E me reconhecer nelas, ao fim
Tendo consciência das minhas dificuldades
das minhas limitações
Mas me movendo para livrar-me delas
Sim, o mundo é belo, apesar de tudo
E não sou eu que vou estragá-lo para você
O Lobisomem sabe quando é hora de partir
quando é hora de subir às montanhas
Lá, onde até os ventos são raros
À procura não de solidão, mas de segurança
Segurança não para si, mas para quem ama
Quando mesmo o amor se transmuda em destempero
Quando a humanidade se rende à fera
e mostra sua face mais sincera, mais real
Reflexo das incertezas que tornou a sentir
O motor da insanidade saturado em brasa
E tudo o que excede desanda as engrenagens
destrói os meus valores
Porém, apesar de tudo, a beleza do outro mundo
O horizonte já obscuro, mas que pretendo alcançar
Os novos horizontes a me fazer sofrer
com também sua indecisão
Falta de sinais claros que me motivem a agir fora de mim
Entretanto, a beleza me toca
Se apropria de qualquer que seja minha emoção
E se traveste em poesia
Me preenchendo com satisfação
Ser poeta, afinal, é estar a serviço da arte
Tocado pelo mundo, movido pela falta
Movido pela distância, pelo abismo
É a expressão de uma sensibilidade agonizante
que rasga o véu e também a carne
e talvez também a alma, se não deixá-la sair
É uma possessão que compensa pelo alívio
Não cobro nada pelo meu uso
Só peço que entre e peço que saia
A alquimia do sentimento
A tradução da vida condensada num momento
O olhar vazio de quem vê através de tudo
olhando apenas para dentro de si
A sua existência como referência da beleza
ou do desprazer do mundo
Ser poeta é, acima de tudo, ser no tudo.
02 - 19/10/2011