domingo, 11 de janeiro de 2015

Bonecos de Dedo - (Relbier Oliveira)

Não haverá palavra dita por nenhum outro que lhe trará paz.
Não haverá um só símbolo que transmitirá confiança;
que lhe trará certeza do que sente ou do que pensa.
Não haverá sequer um nada que lhe garanta o que vier do outro.
Este será para sempre uma perene possibilidade e incógnita.
O único ponto fixo neste universo deverá ser eu.
Eu. Que fui enganado por não sei o que.
Eu. Que me permiti crer que o amor fosse um sentimento interpessoal, bilateral,
um laço de necessária reciprocidade entre dois iguais.
Um desvio no percurso que faria confundir e confluir o fluxo da vida.
Que dois poderiam ser o mesmo ao ser outro por este meio.
Me enganei. Me iludi, me machuquei.
Mas o que consegui ao perceber o erro não foi me sentir melhor.
Se antes havia esperança, hoje somente há solidão.
Perceber-se blindado.
Perceber ao outro até possivelmente inexistente, ou indiferente.
Descobrir que a vida pode ter sido uma piada mal contada e sem graça
e ver que este teatro na verdade é um monólogo interpretado por bonecos de dedo.
O que se ganha com a luz de fora da caverna
se os sentidos apenas se faziam possíveis na dança das sombras?
A Cura, Quem-me-lê, será afundar-se na doença?
Não sei.