sábado, 30 de julho de 2011

O Bulling Institucional - Roni dos Santos

Existe no espírito do brasileiro uma coisa que agente chama de cordialidade. Esse comportamento consiste em apagar do meio cotidiano qualquer vertigem de disputa, agressão ou violência, as vezes pior que isso, supor que essas três coisas são iguais. O medo de qualquer perturbação e desordem aos valores sociais e a moral herdado da nossa falsa igualdade e democracia, permite que a nossa sociedade cometa as mais diversas formas de perversidade possível.

Por que eu estou dizendo isto? Quando eu era moleque, cursando o primário, não faltava quem gostasse de “tirar um barato” de mim, mas também foi assim que fiz muitos amigos. Naquela época como hoje, se você tinha a cabeça grande, o nariz grande, o pé grande, qualquer coisa grande, coitado. Se era branco demais ou simplesmente negro, “tadinho”! Qualquer diferença notadamente extraordinária, que inúmeras vezes vinha carregadas com um preconceito certamente trazido de casa e com contribuições da sociedade, você era uma vítima em potencial da “zoação”. No entanto, os mesmos moleques que “zoavam”, também eram “zoados”, e no fim da aula íamos jogar bola, tomar tubainas e ficar remoendo o infeliz apelido, até que aceitávamos o famigerado nome social para aquele meio. A diferença para os dias de hoje é que temos um nome bonitinho para isso, se chama bulling. Essa é a maior piada do século, por que se tem um lugar onde a estupidez de uma parcela limitada de pedagogos limitados se faz estúpida é na hora de aplicar práticas surgidas de outros contextos ao nosso contexto. Ao contrário do que se espera, identificar tal ato não inibe a prática, ainda por que o bulling identifica e normatiza o individuo que pratica uma determinada modalidade de violência contra outro individuo, ou seja, ela é antes de tudo um bulling das instituições pedagógicas contra os “maus alunos”. Mas quem nunca praticou um “bullingzinho”? Então somos todos “maus alunos”?Eu tô dizendo isto por que eu vi um moleque chamar uma menina de gorda, o que de certo é constrangedor, logo a direção da escola ficou ciente do ocorrido e quando foram chamar o menino para esclarecer o assunto, foram logo avisando, “cara, você cometeu um bulling”. De um momento para o outro o moleque era o maior criminoso do mundo, por um momento de fúria somado a todo o preconceito ensinado pela sociedade mais um aparelho institucional que tem por função normatizar, o moleque se fodeu. Na minha opinião, este é o bulling institucional, que é fazer do indivíduo aquilo que ele não é. Mas como é que se caracteriza o bullyng da maneira como vemos descrito cotidianamente, isto é, como ele é entendido pelas práticas escolares, mídia, formadores de opinião e gente sem ter o que fazer? O bulling se caracteriza pela prática de violência física ou psicológica em indivíduos ou grupos minoritários. Mas que tipo específico de violência estamos falando? Qualquer uma? A psicanálise define – grosseiramente da minha parte – pelo menos duas formas de violência: a ação que tenta destruir um determinado objeto de desejo e àquela que nasce pela diferenciação entre pessoas e grupos, que está muito mais ligado a disputa ou agressão. Podemos considerar que a primeira é destrutiva, por que ela é irracional, ela não destrói só o objeto, mas destrói o individuo que a alimenta, por que ela nunca terá fim. No caso da segunda, podemos situá-la em um campo construtivo, isso por que a disputa e a agressão também servem não somente para diferenciar os indivíduos, mas para colocá-los em relação direta e quem sabe para nomeá-los socialmente junto ao grupo, chamar pra jogar bola, tomar tubaína e outras coisas que pessoas fazem em grupo e não em bando, – a ideia de bando também é uma forma de sujeição, é a tentativa de descaracterizar a individualidade das pessoas que compõe um grupo, como de ladrões - ou seja, não é só a igualdade que aproxima, mas a diferença também.Portanto, se existe uma violência destrutiva, ela também parte das mais altas instâncias institucionais.O efeito do bulling é o exemplo clássico de que toda forma de disputa e diferenciação, independente que posição ela ocupe, tem de ser abolida. Não estou fazendo defesa da prática, mas se formos cuidadosos, podemos perceber que o sujeito que prática o bulling foi inventado. É o nosso medo de perturbação da ordem, é uma forma que os pedagogos têm para dizer quem é que pode disciplinar quem. Não se diferiu as diversas formas de violência em nome da violência institucional. Logo, inventou-se também uma forma de dizer o que é politicamente correto. Mas ao passo que nos indignamos com essa postura politicamente correta, a única opção parece ser a atitude politicamente incorreta, ou seja, o trote pelo trote, a piada pela piada, sem outros fins.O grande problema é que o politicamente incorreto também não supera a violência banal, ela traz consigo àquela carga de preconceito através da dominação e sujeição sobre o outro, ela é a outra face da mesma moeda, ou da nossa cordialidade. Ela não nasce da vontade de conhecer e integrar o outro, mas para satisfazer o próprio ego. Então aqui persiste o nosso espírito covarde, por que é uma postura que tende a tornar explicito aquilo que era implícito, ou seja, ele continua a destruir nosso objeto de desejo, mas agora com o rosto de uma mulher, de um gay, um negro ou qualquer ser diferente. Nosso espírito cordial também se manifesta quando aparece um vídeo na internet de um menino “gordinho” respondendo ao bulling que vinha sofrendo, deliramos de tesão e emoção nos sentindo representados pela reação do garoto, sentimento similar ao nosso desejo de vingança, vizinho do ressentimento, por que nos julgamos e somos incapazes de fazê-lo por conta, mas queríamos fazer, isto é, por um instante somos heróis sem ser, gozamos como pau dos outros.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Embate... - Arnaldo Silva

Existe um tempo
Na sua vida
Que tudo é perfeito
Tenho certeza…
As cores são fortes!
O som vibrante
O perfume agradável
As formas são lindas.
Seja de um corpo
De um lugar
De um momento
Ou até de um desejo
Este tempo não é o atual
Assim passado e futuro
Travam uma luta desigual
Com o presente para tomarem seu lugar
Nos iludimos por não saber
Quem hoje ganhou a batalha