É preciso
amadurecer o suficiente para poder falar de amor. Entretanto, mal me sinto
maduro sequer para falar!
Desejo
uma mulher como nunca desejei nenhuma outra. Sinto necessidade do seu espírito
e da sua companhia, do seu calor, do seu cheiro e do seu toque, mas me sinto ainda
menino. Falar-lhe sobre o que sinto é contar que vi um ninho de formigas a um
astronauta: era tão belo, tão encantador, tão revelador, mas era apenas um
ninho de formigas, afinal. São dimensões igualmente grandes, apesar de relativamente
diferentes. Uma mulher deve certamente esperar mais que um ninho de formigas,
ainda que este possa ser tão grande quanto o mundo. Como potencializar o que
temos de ingênuo e puro sem perder a ternura (jamais)?
“Eu
te amo” é vago, correndo o risco de ser vazio. Mas eu te amo, poxa! Por que não
consigo dizê-lo a você, se é tudo o que tenho de mais sincero para dizer? É que
temo perde-la, e a mantenho ao preço de uma alma sufocada, a minha, calada por
meias verdades que teimam perigosamente em sair pondo tudo a perder: o homem
que por elas sai de minha boca, mas que não sou eu. Eu sou menino.
Um
homem não se troca pelo que não terá por medo de perder o que não tem. Antes a
certeza de ter perdido que o remorso de nunca ter tentado. Preciso fazer com
que esse homem que vos fala saia e conquiste efetivamente o mundo, ou que, se
não, morra tentando, mas que deixe de se esconder por medo de perder o que, de
fato, nunca teve. O império da fantasia está ruindo; o apelo da realidade é
mais forte. O efeito do tempo torna mais melancólico os personagens criados, e
isso é cada vez mais insuportável: o homem precisará sair se não quiser morrer soterrado. Terá de repossuir o seu velho corpo consumido pela ilusão e
transformá-lo num guerreiro, um lutador, e marchar para a reconquista da
realidade.
De
fato, o amor transforma. A ameaça de perdê-lo quando não se o tem é tão pior
quanto perdê-lo quando se o tinha. É que a fantasia potencializa a dor.
Sim,
por amor. Por amor é que o menino resolveu mudar. Por amor é que o menino
resolveu tornar-se homem. Por amor abandonou o seu mundo de felicidades opacas
em busca da cor mais viva quanto possível. Por amor aceitou pôr tudo a perder a
valer. Por amor ele se expôs a isso. “Mas, o que é esse tal amor?”, cabe a
pergunta. Isso ele ainda não sabe realmente. Resolveu colocar a fantasia à
prova para testar se de fato o amor existe. E, se constatar que ele não existe,
não terá mais para onde voltar. Terá de aprender a ser um vazio homem prático,
e desejar, enquanto espera, que a chegada do desconhecido lhe confira uma nova
chance. Porém, também o império do desejar será nesse momento tido apenas por
ficção do espírito. Então só lhe restará a realidade. Que ela não seja para ele
tão dura!