quarta-feira, 11 de março de 2015

Vide a mim - Fernando Xavier

Tempo de recolher pedras.
Tempo de plantar e de observar o horizonte dos campos
Nas campinas nascerão flores amarelas e nada mais.
Das odes surgirão as últimas lamúrias de um tempo  que
foi e já não arrebentarão as ondas em pedras artificiais.
Tempo de perder e de calar.
Tempo de bailar no momento mesmo da sensação de liberdade,
porque deveras é sensação e não condição.
Dos redutos de finitudes gritarão aos céus aqueles
que não suportam a potência em si.
Não se curvarão à ignominias os clarões instáveis
em meio á escuridão total.
È tempo! È. Porque não há de ser de outro modo,
Quem fugirá à sedução de invenções humanas?
Quem seguirá sua desordem e lamentará o tempo ser objeto
para uns.
È tempo de promiscuir-se. De servir aos que venceram, de
abaixar a fronte olhando para o tendão de aquiles daquele que
ousa acreditar em sua ação.
Tempo de vedar os olhos e escolher uma viação, um destino, uma
faca para amolar.
Tempo de acreditar que a morte é processo e não abstenção de viver.
È espaço de andorinhas, de pardais, de pássaros que deveriam estar ali,
mas não estão. Pois esta é a terra dos homens.
Essa é a terra das instituições.
Vide a mim. E atente para meus olhos, minha curvatura ergométrica, a ossatura da minha alma, olhe para as fracas expressões da minha face. O que vês?