segunda-feira, 20 de junho de 2011

Das redes e da amizade como modo de vida - Roni dos Santos

"Todos vós, que amais o trabalho desenfreado (...), o vosso labor é maldição e desejo de esquecerdes quem sois." Nietzsche, Assim falava Zaratrusta.

O que eu prezo em uma amizade é o tempo ocioso, “fazer nada junto”. A capacidade que uma pessoa tem dedicar seu tempo para não fazer nada com outra pessoa, mesmo que for para ficar em silêncio. Ao contrario do que algumas pessoas pensam, o silêncio é sagrado, o silêncio não é a ausência de comunicação e interação, mas a possibilidade que se desenvolva outros meios de linguagem.

Neste momento de nossas vidas vivemos um estranho paradoxo, quanto mais se desenvolvem a ciência e a tecnologia, mais sentimos um vazio existencial, quanto mais produzimos para sobreviver, mais “subvivemos”. Parece que a única possibilidade de sentido coletivo seria montar um personagem em meio às redes, para que sejamos alguém ou, no caso das relações fora das redes, interrompermos brutalmente os silêncios – seja com o fone de ouvido no buzão, ou a necessidade de falar desesperadamente sem parar – na tentativa de esquecermos quem somos. Em particular no caso das redes, quanto mais nos conectamos a elas – fruto desse desenvolvimento tecnológico – mais nos isolamos. Notei pela seguinte frase que peguei pela NET: “A internet tem esse estranho paradoxo, de aproximar quem esta longe e afastar quem esta perto”. Então eu me pergunto se isso realmente é verdade. Imagino que as sociedades em redes são, antes de qualquer coisa, ferramentas a serem manipuladas pelo homem, se os homens se alienam nelas é muito mais por consequência de algo maior do que por razão das redes em si.

Lembremos que antes das sociedades em redes já existia um processo de isolamento dos indivíduos, o século XIX é um processo de disciplina que encerra o homem em uma relação espaço-tempo, isto é, a criança e o pedagogo na escola, o trabalhador na fábrica, o médico e o paciente no hospital, todos eles têm de obedecer a uma regulamentação temporal dentro de um espaço definido para sua função. Com um tipo de comportamento que tem se aproximado de uma sociedade de controle, a sociedades em redes são perfeitas, pois é possível que o indivíduo se movimente temporal e espacialmente, mas o que não quer dizer que não haja um ponto de controle sobre ele. Em última instância, podemos dizer que o fim último desta sociedade não é o homem, mas sim uma autoreprodução dela mesma de forma alienada. Quando a ciência e tecnologia, mais especificamente as sociedade em redes que produzimos, não serve como ferramenta, mas tem o homem como sua ferramenta de desenvolvimento, senhores, sim, ela é alienada.

Portanto, da minha parte como tentativa de resistir a essa investida, não me preocupo com uma produção de interesses que tenta reproduzir este tipo de sociabilidade. Procuro amar loucamente a minha imagem naqueles que estão com a mesma disposição, seja respeitando seus silêncios ou as diversas formas de manifestação ou linguagem. Por isso, eu não sei qual a distinção entre amor e amizade, isto por que amo meus amigos e procuro ser amigo dos meus amores, isto define minha concepção de “amizade como modo de vida”. Em homenagem à família Bad Fur Day. http://porumaportaiconoclasta.blogspot.com/