sexta-feira, 8 de abril de 2011

Vencido, mas não convencido - Relbier Oliveira

Na verdade, eu não devo existir, porque, no fim das contas, sempre busco ser alguém que, infelizmente, efetivamente não sou. Experimento um tipo de devassidão ideal quando aquilo que eu devia ou queria ser é corrompido por aquilo que sou. Nesse momento, então, faço um brinde a mim, pois recaio nos mesmos vícios, como se pedisse desculpas por tê-los desprezados. Mas até que me sinto bem, uma vez que fico envolto novamente aos meus. Por um momento ou dois, chego mesmo a escarniar daquele outro pretenso eu, enquanto dou as costas a ele. Porém, no fundo sei que é orgulho ferido, por minha incapacidade de alcançá-lo para dar-lhe a mão, a fim de que me puxasse aos seus. E fico cá, jogado à tragédia particular da minha existência, perseguindo o horizonte e buscando a mim, esperando novas peripécias do existir com mais o que me preocupar. Entretanto, o horizonte não se alcança, sei disso. Mas vá dizer a um sonho que ele já não é real e que agora será desempossado também da esperança! Esse é o esconderijo da loucura, também sei: daqueles que vêm o que querem ver. (Mas o ponto é que eles não querem, apenas vêm!).

2 comentários:

  1. Caio Negreiros Cachuté26 de julho de 2011 às 12:00

    A existêcia da angústia, do sofrimento , graças ao Objeto A ( estruturalmente faltante, pulsional) - dirá Lacan, é perene em nossos pobres corações.

    ResponderExcluir
  2. O fato de buscar ser alguém que não é, é apenas um desafio...pois você é tudo aquilo que você quer ser!

    ResponderExcluir