sábado, 18 de junho de 2011

[Folhetim ainda sem título] (PARTE 1)- Fernando Xavier & Relbier Oliveira

Tinha dito o quanto desvanecido estava:

— Olha, estou muito desvanecido...

Mas tinha dito também o quanto não era mais ele mesmo:

— Meu caro, eu não vou repetir o que eu disse...

A passos largos, ia para o quintal, e a passos largos, voltava para a sala. Há meia hora esperava a bendita e ela nem sinal! Mas que afronta! Que disparate! E tragava mais e mais o cigarro.

— Pelo amor de Deus! A gente combina um horário, mas ela não respeita, nunca respeita!

Meia hora depois a fulana abre o portão afoita:

— Ei meu bem, trago boas noticias: O Bonifácio me entregou o malote! Vamos para Paris!

— Aehh! Prepare as malas! Vamos hoje mesmo!

— Demorou!

E assim foram para Paris. Viajaram pelo Chateau de Versailles, pelo Centro Pompidou e pelo Museu Rodin. Agora eram chiques, não podiam mais comer um bife à milanesa sem lembrar do Petit a Gateau.

Mas foi na volta para o Brasil (Ah... que volta!) que aconteceu o que interessa nessa história.

— Olha, meu bem, não deixemos o navio naufragar, não fiquemos a esperar as curvas da estrada... Você sabe, e eu sei... Devemos nos casar, Imediatamente! Nós nos amamos, não? Então porque deveras devemos esperar mais? Eu durmo na tua casa todo dia, quase. Pago aluguel á toa... Vamos juntar nossos panos de bunda e ficarmos bem!

— Mas que maneira mais insensível de pedir alguém em casamento!

— Ah, não vem querendo dar uma de romântico porque tu não é!

— Aff

— E outra coisa, você não tem outra opção! Ha-há-há...

— Que engraçado. Há-ha... Só você entendeu a piada.

— Sem graça.

Mas essa história não é assim uma regra: um romance brega, careta, típico tema musical moderno... Não! O que acontecerá adiante mudará a história da humanidade! Mudará os rumos da sua vida! Sentirá os efeitos: o boi pastando no pasto, a coruja corujando no poste, o cavalo cavalando no celeiro e o homem trabalhando em qualquer lugar.

— Ó, vida celeste! Céus azuis. Meretrizes em chamas!

— Ó, canavial medonho! Vidas breves sem carinhos tortos!

— Ensina-me, como a teu rebanho, onde está o segredo do teu sorriso sem motivo!

— Ó, ensina-me a viver! Tu que sabes que viver é arte. É técnica e ao mesmo tempo privilégio!

— Conversa de doido!

— Pois é.

No metrô, os atores e atrizes desempenhavam o suficiente para as moedas...

— Eu não vou dar um centavo pra esse povo.

— Eu vou dar uns trocados. Tem que ser muito corajoso pra ser assim tão idiota.

— Há-há-ha.

Mas um dos atores olhou para a moça de vestido de seda azul a meio palmo acima do joelho com um decote bem trabalhado para sensualizar qualquer ocasião.

— Ei!

— Oi?

— Você não é aquela moça que viajou comigo para Foz do Iguaçu? Felisberta, não é mesmo?

— Sim, sou eu mesma! Que coincidência, hein.

— Pois é!

— Esse é meu amigo, José. José, Fabio, Fábio. José.

— Prazer.

— Prazer.

— Olha, vou indo nessa, tenho muitas coisas a fazer, como você mesmo pôde testemunhar, ha-ha-ha

— Eu tô vendo. Mas olha, um conselho: melhore esse texto. Tá feio, hein.

— É um artista da Grécia antiga, coisa fina.

— Então deixa e fala pra todo mundo que era da Grécia. Quem sabe o povo não começa a gostar.

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