terça-feira, 22 de maio de 2012

Lucidez - Arnaldo Silva

Sabe aqueles dias?
Aqueles em que tememos seu nascer
E imploramos por seu fim
Hoje é um desses dias
Acordei sem saber em que ano estava
Tudo me pareceu cinza e sem sentido
Seria capaz de jurar que o ano era outro
Qualquer outro
Por um momento senti minha alma morta
Fiquei com medo da vida
Tentei culpar alguém e até a mim mesmo
Me reduzi a nada por não ter dado sentido à vida
Vou dormir
Beber o sono do dia
Para que amanha
Tudo se dissipe

sábado, 19 de maio de 2012

Onde Está K. S.? (Obituário) - Relbier Oliveira


Dançarei no seu velório
E beberei esse ódio até a última gota
Não pense que esperarei passivamente pelo próximo golpe seu
Meu amor se transforma em ódio para afastar de mim quem não me quer bem
“Por que me mantiveste ao seu lado, se nunca havia me perdoado?”
Agora está claro: plateia para sua vingança sórdida
Mas só terás de mim desprezo
E tudo o de pior que o meu ódio puder fazer
Se me encontrares pela rua, fuja! Será sensato fazê-lo.
E torça para que eu morra primeiro
Pois senão dançarei sobre seu caixão
Lançarei injúrias sobre sua história, pelo poder que me foi dado
E nunca mais me verás cultivar uma rosa com o nome seu
se no meu jardim só brotarão desgraças
das sementes que tu tocaste
Seu veneno não me porá abaixo
Pois me alimento das piores emoções para criar
E nas fábulas dos meus mundos novos, não serás jamais sequer lembrada
Que o dia 17 de Maio seja lembrado mais pela quebra de nosso elo
que pelo início de uma nova era
Pois esta simbologia foi mais nociva que a pior das bombas humanas
Ao transformar o amor em um câncer espiritual
No seu lugar, ficou o mais bem vindo vazio
Onde está K.S.?
Morreu!
Este é que foi o meu melhor presente.



terça-feira, 24 de abril de 2012

Luar Comum - João Paulo Ganhor

À Helô,
Que de tão distante, se faz tão próxima..


    A calmaria se fará presente
          simplesmente quando a vida trajar-se com seu negro manto.
   Abrindo caminhos em seu imenso caminho celeste
          à divina dádiva de pálido semblante,
          espelho do ouro de teu olhar.

Ignorando as míseras distâncias humanas,
          lhe iluminará os caminhos infinitos.
E findado teu interminável passeio translacional,
          brindar-te-á, como a mim, os serenos fins de tarde.
Levando as vibrações que aqui guardo por ti.
Lembrando os corações que amam, como é possível estar próximo.

Ter em meu céu o imaculado objeto de tua contemplação
          é como ter uma amostra de teu olhar;
                    Uma parte de você carregada pelo luar.

sábado, 31 de março de 2012

O Príncipe Destronado - Relbier Oliveira

Se um dia perdeste algo que era seu

Talvez hoje esse algo seja de outro alguém.

Se já fizeste pedido a estrelas cadentes, saibas que eu também.

Certa feita, atirei meu presente pela janela

E o vi ser resgatado por uma alma boa, amiga, amante...

Enquanto da minha garganta não saia o grito de posse que se esperava.

Aguardo agora a chegada da serpente dourada

Para arrebatar-me ao meu lugar distante e solitário do Universo

Lá onde eu possa sorrir eternamente,

Sincera e ingenuamente,

Na forma de estrelas

Pois cá onde estou já deixei de cativar.

Desfiz-me dos meus tesouros em favor da solidão

E já não espero entendimento,

Tampouco perdão.

segunda-feira, 12 de março de 2012

A Maneira Exata - Relbier Oliveira

Se você fizesse tudo errado na sua vida

E olhasse para traz, para todos os seus erros

Veria que sua vida foi tão bela, sem igual

Desejaria fazer tudo outra vez

Os mesmos erros, os mesmos desconcertos

- Por Deus, este dia é tão triste!

O pior da vida

Lembrar que a quem tanto se amou e abandou

hoje está feliz com outro

E eu, tão só e amargurado, recapitulando

Vendo que as coisas que não vivi,

que os sonhos que sonhei

nunca serão tão belos

quanto os erros que cometi

os quais hoje me afligem como nada mais nesse mundo.

Não, não gosto de sofrer

Mas amo minha vida e não a viveria de outro modo.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Noite Boa - Uma Outra estação

noite longa, noite amiga, da janela posso ver, da janela do meu quarto, que refletem os relampagos dos clarões da minha mente, noite fria, noite boa , vem o vento balançar as cortinas do meu cabelo. das lembranças do soluço da saida que tu trazes. se ouço as ondas bater nas pedras, penso nos meus pes pisando a areia fria como se tornou a tua pele.e os nossos sonhos , nossos castelos de areias , que resistiu ao meu sorriso de criança, não esperou nem que o sol se retirasse, e desmoronou, um lamaçau de areia fria feito o meu coração incredulo sem forma, e sem vontade apenas esperando novas ondas que o carregue e o dissolva nas profundezas do mar salgado. noite boa, noite esperança, de longe entendo a intenção do seu halito quente, mas saiba que quero estar a mirar de longe as luzes da cidade, da janela ouço seu canto de chuva e de fertilidade e me esqueço, nesse verão distante, da janela do meu quarto tento esqueçer que meus passos foram ontem percorrer sinuosas curvas de ilusão. noite boa, mas noite triste que percorreu a praia abandonada nua usada e suja pelos banhistas, percorreu as faces pontiagudas das pedras, e a expressao disformes da areia pisada, que percebeu qualquer coisa funebre na lua refletida na espuma das ondas, e veio aqui me perguntar, mas antes dizer... noite boa, noite louca, olhou pra mim, pras minhas rugas de cansaço, para os meus pés sujos de areia, e viu que eu a fitava sem pressa , ignorando a sede... e entendeu e foi embora pra junto do mar profundo me lançar relampagos nos céus e ficamos assim. noite boa, noite boa.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O uso de drogas e o debate que não querem - Roni dos Santos

 
Muitos têm sido os episódios onde o tema central envolve a questão do uso de “drogas”, ou melhor, psicoativos. O tema no geral é confuso e dissuadido de várias maneiras, muitas vezes proposital e hipocritamente, outras pela ignorância do desconhecimento social e histórico e algumas pelas duas forças misturadas. O olhar que temos para o fenômeno do uso de drogas é como se ela fosse algo que surgiu nas últimas décadas e contribuisse para o fim dos tempos, o que é um absudo, estudos têm mostrado o quanto isso é falso. O que temos de diferente é simplesmente o modo como nos relacionamos contemporaneamente com ela. Ainda sim muito do debate se perde. Por exemplo, não fazemos a distinção entre drogas naturais e sintéticas, mas se você for perguntar a alguém sobre o assunto sob qual a lógica das drogas esta alojada no senso comum (propositalmente ou não), possivelmente ele vai te dizer que não quer saber da diferença, que droga é tudo igual. Mas este é o ignorante que ignora as possíveis verdades e somente olha para a dele, então este homem se torna solitário na sua autoreferência e como dizia Aristóteles “O homem solitário é uma besta ou um deus”, por que homem nenhum vive somente da solidão, particularmente de idéias. Mas este tipo de ignorância encontra solidariedade, contrariando a primeira citação encontramos facilmente a loucura coletiva, Nietzsche foi um gênio ao esfregar na cara do ocidente a nossa mediocridade da massificação da cultura.

Digo isto por que muitos destes moralista que defedem a lei e a ordem (deles é claro) querem que de fato reine a confusão de idéias, por que onde reina a confusão, reina a intolerância para o diferente, para um mundo com novas possibilidades de experimentos dentro da dimensão da própria vida. E que fique bem claro, o debate que tenho proposto aqui é sobre o uso de drogas, por que a confusão pode ganhar outros contornos se falarmos por exemplo sobre o tráfico, obviamente as duas questões não estão desligadas, mas falar de tráfico como se isso fosse uma consequência do usuário que o financia também é falácia, assim como criticar o traficante que fornece psicoativos ao usuário. Eles estão ligados, mas cada um constituiu uma história paralela de dois vértices que um dia se encontrou numa aresta. Uma posição coerente sobre a questão foi a do MC Leonardo em seu artigo para a revista
Carta Capital, onde ele argumenta que “Cada um vê o problema da maneira que lhe convém, mas a verdade é que quem mais sofre com a forma que o mundo encontrou para combater o avanço da droga é a população pobre.” Isto mostra, inclusive, que temos que relativizar a questão, por que uma coisa é o uso e a circulação nas classes médias da vida, outra coisa é o mesmo uso e circulação nos morros e favelas de uma outra vida.

Contudo, se formos nos prendermos somente a ideia do uso de psicoativos temos que ficar atentos as questões ligadas ao uso e suas potencialidades, e não simplesmente tratá-las como anomalias. Pensar na possibilidade de um estado alterado de conciência é pensar em uma possibilidade que a mente e o corpo pode atigir de novas sensações e descobertas. Isto está relacionado ao abuso do uso destas substâncias como o crack, por exemplo? O crack é uma possibilidade, mas para evitar estas possibilidades de abuso, seja do crack ou de qualquer outra substância, sintética ou natural, o campo de pesquisa da saúde tem dado passos consideráveis com a política de redução de danos com investimento de idéias de prevenção e tratamento que partem muitas vezes da noção de autonômia do usuário, e por mais que pareça contraditório, este tipo de política tem tido seus efeitos positivos. A verdade é que a pressão social dos pares em termos de apoio e confiança mostra uma correlação de força com as necessidades psicossomáticas, hoje existem clínicas de tratamento que trabalham basicamente com este composto, seja a partir de uma política proibicisnista (onde a autonômia não é um componente) ou de redução de danos. Isto explica em partes por que sempre houve o uso de psicoativos em diversas sociedades e por que, ao contrário do que prega a mídia sensacionalista, a maioria das pessoas que usam drogas controlam seu uso.


Segue abaixo sites e abras para download que debatem o assunto:


Coletivo DAR - Desentorpecendo a Razão


NEIP


Livro: Drogas e Cultura: novas perspectivas

blog do autor:  http://porumaportaiconoclasta.blogspot.com/2012/02/o-uso-de-drogas-e-o-debate-que-nao.html