segunda-feira, 30 de julho de 2018

Chico Guará- O Livro do desencanto



O que acontece quando não estamos sob a rédea da necessidade? Aquela que nos faz ainda animais. Prazer, alegria, tédio, amor e ódio, não sentir nada é de uma estranheza absoluta. Saímos das cavernas para habitar locomotores e trens, cavalos e desdéns. Quando subi na arvore era de manha e as pessoas pareciam misteriosas, agora de noite vejo o brilho delas um tanto ofuscado, inebria mas a luxuria é de metal, as hóstias de gordura pecam em não enlutarem mas enervarem-se em silêncio. Não há de ser as palavras catadas de mão e olho, de pó em pó. São palavras duras como o pedregulho na meia no andar no caminho da verdade, desatino em inutilezas verbais, com nuvens acinzentadas destoando do contraste tão, mas tão diferente desses tijolos empilhados!  Onde estão os joios? As plantações de trigo e os dourados balançando  com o tempo, selvagerias costumeiras em navios de pólvora, mata! Mata! Sinto a história cavalgando e os cavalos aumentam de tamanho e virilidade com o passar do tempo, mesmo que Khan e Mao, Atila e Cesar postulem nos horizontes, são eles, aqueles que pisoteiam com ferraduras de outros animais, são eles, aqueles que querem poder e riqueza, eles sim movem montanhas, destroem fortalezas e mandam trazer navios de pólvora. Sinto a vastidão do teu olhar alcançando tudo, centeios, uvas e oliveiras, jasmins, cajus e algodoes, soja, milho e boiada, estradas, curvilhas e jangadas! Tudo! É deveras mais um lamento latinoamericano, mas se apresse e vera o trem partindo e seu amor cairá em preces, sinta o cheiro de alecrim e mata molhada, hortênsias e dracenas e nunca mais vera um ruborizar em falso. Seja isso, um velho pedindo conselhos e em seu testamento lembra do ladrão que lhe roubou apenas os chinelos porque não aguentava mais ser andarilho descalço em terras de leões.
Eu sou a cocaína, suscito prazer e não-juras de amor. Mil léguas me distancio de ti mas a boca os seios e teu sexo arderão em mim. Sou a liquidez do amor, dos tempos pós-modernos, tão frias as noites e nós mesmos que se houvesse silencio poderiamos  sentir nossa solidão. O Ser nos abandonou, não há mais sentido histórico, fomos jogados ao mar como uma pangeia discriminatória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário