quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Casa velha de Machado: um debate dos costumes - Roni dos Santos

Casa Velha, curto romance de Machado de Assis que ilustra o Brasil Colônia, nos faz entrar em um mundo estamentado em suas posições sociais, onde cada individuo tem o seu lugar marcado, destino traçado e posição feita. O contexto social são os anos de 1830, isto é, em plena regência monárquica de D. Pedro I, logo encontramos inúmeros elementos de um Brasil atrasado, quase feudal. Quatro são os personagens principais: D. Antonia, a matriarca da casa, seu filho Félix um rapaz sem muitas afinidades para com a vida que herdou, a agregada Lalau e o personagem/narrador representado por um padre interessado em reconstituir a vida política do falecido ministro, ex-conjunge de D. Antonia.

O romance narra a paixão de Félix por Lalau e em contrapartida sua correspondência pela moça. No entanto, há uma oposição, de sua mãe, D. Antonia, que segundo ela mesma, ao expor suas razões de interdição ao casamento diz em relação ao seu filho, “(...) precisa de uma aliança de casamento. Isto não é novela de príncipes que acabam casando com roceiras, ou de princesas encantadas.” A contradição irônica machadiana tem a intenção de solapar o romantismo do início do século XIX de uma sociedade de indivíduos livres e prontos para subir e descer as classes sociais conforme suas aspirações e oportunidades. Com efeito, a crítica social se arrasta a um Brasil hipócrita que mantém ideias moderna sob costumes conservadores. Não foi diferente, por exemplo, na inconfidência mineira, onde procurou-se romper com a monarquia portuguesa, porém mater-se-ia a escravidão.

É sobre esse Brasil que não avança que machado constrói uma crítica singular, é particularmente sobre o modelo a estrutura mental dos personagens que reproduzem constantemente a mentalidade social que Machado procura descrever. Félix, por exemplo, não herdou do pai vocação alguma para a política, no entanto, as tradições sociais e familiares pedem que ele seja, enquanto ele se mantém em um sonho de paixão pela moça Lalau, a carreira política também ameaça não se cumprir. A mãe, matriarca da casa, é tida por um momento do romance como uma imperatriz “Não batia com o cetro em ninguém, mas estimava saber que lho reconheciam.”, ou seja, na ausência do senhor era ela a responsável pela ordem, tinha duplo papel, de manter os costumes da casa, por isso a insistência até o fim para que seu filho não se case com uma “agregada”, e ao mesmo tempo de zelar pela docilidade do lar.

Ser agregado neste período da sociedade brasileira, significava ser branco e ter um mínimo de instrução educacional – no caso das mulheres, instrução para arrumar um bom casamento, no caso de Lalau “Tendo ficado órfã desde 1831, D. Antônia cuidou de lhe completar a educação; sabia ler e escrever, coser e bordar; aprendia agora a fazer crivo e renda.” Ser agregado na primeira metade do século XIX significava ter compromissos com o senhorio da casa. Lalau é dama de companhia de D. Antonia, têm regalias de senhora, anda pelos cômodos e desfruta das amizades familiares, no entanto, sua posição inferior é motivo suficiente para que D. Antonia sustente uma mentira sobre seu nascimento para impedir um casamento com seu filho.

O padre, personagem/narrador é o intermediador do conflito, é o espírito cristão e ingênuo de uma sociedade justa e igual “em Deus”, ou como ele mesmo diz “Sou antes especulativo que ativo; gosto de escrever política, não de fazer política. Cada qual como Deus o fez.” O que representa a omissão das instituições religiosas, sem um papel político claro, pior, quando esse papel era claro, era de apolítico. A Igreja no Brasil, desde a catequização dos índios até a constituição das pastorais assumiu um papel de conciliadora dos conflitos na sociedade brasileira, um trabalho um trabalho de excessivo intermédio, que por vezes apóia uma causa, em determinados momentos é um pé no freio e em outros não tem papel algum.

Por fim, a moça Lalau casa-se com Vitorino, filho de um mecânico, rapaz que não prometia até este desfecho. Félix casa-se com Sinhazinha, outra promessa que tardara a se cumprir. O que os casamentos têm a ver? Eram, sobretudo, casamentos arranjados desde o começo, caso não fosse a paixão dos dois, estes matrimônios já se teriam realizados. Então concluímos com a citação do desfecho final do romance de Machado de Assis que diz “Se ele (Félix) e Lalau foram felizes, não sei; mas foram honestos, e basta.”, isto é, ironicamente ser honesto, é saber seu lugar na “casta”.

Um comentário:

  1. Amigo, o seu texto ficou bom, essa mini resenha crítica. Só chamo a atenção para certos descuidos, sobretudo nas pontuações, os quais revelam que o texto, certamente, não foi revisto. A ideia é fundamental, porém trata-se de um texto e, portanto, a forma tb conta muito. Mas gostei bastante da reflexão e da sugestão. Parabéns! ;)

    Anônimo = Wesley dos Santos

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