domingo, 5 de janeiro de 2020

Querida - (Relbier Oliveira)

Vim contar verdade sem meu olhar
Viajar e viver de uma vez
no instante em que te abracei
pela primeira e única vez.
Um momento espontâneo da vida
que jamais esqueci.
Vontade tenho, vontade feliz
de mais uma vez nessa vida ainda
voltar a te sentir.
Sentir minha metade preenchida
Sentir transbordar de prazer
Mostrar em pobre rima
Mostrar como amo você.
Ah! Como amo você!
Mesmo em pouco te conhecer.
Surgiu pequena menina
Bem de longe a vi crescer
Linda, ainda mais linda
E eu sem poder te colher.
Tempo espera, esperar é arte
Não se pode apressar o andar
Não se pode apressar o amor
Que em tempo justo sempre há de brotar.
Se não brotar, meu bem
Ah! Se não brotar!
Esse tempo danado, destino selado
Mistérios de Deus.
Vou sofrer mais, vou sofrer
Mas vou buscar esquecer:
somente do que me afastou de você
- Covardia de não ter tentado, covardia de ter aceitado
a versão semelhante, mas não você.
Confundi amor com amizade
e quando vi, já era tarde:
perdi o desejo e o real.
Mas vou te levar comigo,
em momento único, bonito
No instante espontâneo, vivido
na única vez que te abracei
Minha querida, ThCS.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Simone e eu - sobre aquele olhar (Relbier Oliveira)


"Toda vez que para aquela estante olhar, nela me verás.
Quando o livro manusear, será meu corpo.
Nele, mais que o meu cheiro estará:
minha alma, meu amor
não expresso em palavras:
letras são frias.
Quente é o coração,
na veia, o seu pulsar.
Toda vez que para aquela estante olhar, nela me verás".

Mas  minha alma grita, presa em celulose estéril.
Preferível queimar, as cinzas são mais nobres.

Seu desdém e arrogância
sua ingratidão e injustiça
escondem a pessoa incrível
que minha fantasia apostou em você.

Queime a minha alma,
mas não a negue em gestos fúteis.
Quem só te desejou o bem seria mais feliz assim...

Se bem que... Toda vez que para aquela estante olhar
nela nada mais verás que vazio.

Sua mais cara fantasia cairá
quando perceberes que pessoas não são descartáveis.

Mas, veja: sua estante perdeu mais que um livro
ela perdeu uma alma irmã.
O mundo é grande, meu bem.
Mais sorte aos que tiverem o mesmo azar!

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Chico Guará- O Livro do desencanto



O que acontece quando não estamos sob a rédea da necessidade? Aquela que nos faz ainda animais. Prazer, alegria, tédio, amor e ódio, não sentir nada é de uma estranheza absoluta. Saímos das cavernas para habitar locomotores e trens, cavalos e desdéns. Quando subi na arvore era de manha e as pessoas pareciam misteriosas, agora de noite vejo o brilho delas um tanto ofuscado, inebria mas a luxuria é de metal, as hóstias de gordura pecam em não enlutarem mas enervarem-se em silêncio. Não há de ser as palavras catadas de mão e olho, de pó em pó. São palavras duras como o pedregulho na meia no andar no caminho da verdade, desatino em inutilezas verbais, com nuvens acinzentadas destoando do contraste tão, mas tão diferente desses tijolos empilhados!  Onde estão os joios? As plantações de trigo e os dourados balançando  com o tempo, selvagerias costumeiras em navios de pólvora, mata! Mata! Sinto a história cavalgando e os cavalos aumentam de tamanho e virilidade com o passar do tempo, mesmo que Khan e Mao, Atila e Cesar postulem nos horizontes, são eles, aqueles que pisoteiam com ferraduras de outros animais, são eles, aqueles que querem poder e riqueza, eles sim movem montanhas, destroem fortalezas e mandam trazer navios de pólvora. Sinto a vastidão do teu olhar alcançando tudo, centeios, uvas e oliveiras, jasmins, cajus e algodoes, soja, milho e boiada, estradas, curvilhas e jangadas! Tudo! É deveras mais um lamento latinoamericano, mas se apresse e vera o trem partindo e seu amor cairá em preces, sinta o cheiro de alecrim e mata molhada, hortênsias e dracenas e nunca mais vera um ruborizar em falso. Seja isso, um velho pedindo conselhos e em seu testamento lembra do ladrão que lhe roubou apenas os chinelos porque não aguentava mais ser andarilho descalço em terras de leões.
Eu sou a cocaína, suscito prazer e não-juras de amor. Mil léguas me distancio de ti mas a boca os seios e teu sexo arderão em mim. Sou a liquidez do amor, dos tempos pós-modernos, tão frias as noites e nós mesmos que se houvesse silencio poderiamos  sentir nossa solidão. O Ser nos abandonou, não há mais sentido histórico, fomos jogados ao mar como uma pangeia discriminatória.

domingo, 17 de setembro de 2017

Tuta falida - Relbier Oliveira

E quando pareceu me quis,
do peito coração caiu;
Em seu lugar ficou vazio.
Vazio, amarga dor de estranho.
Sentimento, sentimento frio.
Às vezes, sabe que tão lá não vou.
Bem se sabe também assim.
Me dá o que não posso ter.
Se dá tão pouco e se apartas de mim.
Quero longe o quão mais perto
o tão mais perto eu não a possa tocar.
Se apartas, se apartas de mim,
me transe com um olhar.
Hálito, cheiro, calor da pele:
não os deixe provar.
Vá-se longe, amor!
Para que vos possa amar.
Vá-se longe, amor...
Para que vos possa amar.
Seja a figura perdida, a figura escondida
a Tuta falida que recusou um meu valor.
Assim se vai a flor, eternizar a dor
manter o amor.
Vá-se longe, amor.
Meu amor...
Para que vos possa sempre amar.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Um despertar de sensações

Aproveita o verbo latente,
Dance a música implícita
Se buscar defini-los,  fogem
E em seu lugar, agonia
Pelo sim ou pelo não
Jogue pelo não,
Porque ele é garantido:
- que venha o não então!
Adoro olhar a copa de árvores frondosas ao longe
Sob céu de brigadeiro
Sentado embaixo de abacateiro desflorido
Que atentam sobre nossas vida.
Me lembra a praia,
Da primeira vez que vi o mar
Do alto da serra.
Um revoar de folhas mortas,
Circo de viúva
Placas sugerindo o não
Que a todo instante surgem
Melhor estar sozinho,
Viver na solidão,
Que ter a falsa impressão
De que encontrou outro alguém
Que faz parte do seu mundo então.
E me foi dado entender tanta coisa
Que as vezes sinto vertigem.
Me dê razões e motivos
Que ti construo um nada exclusivo
É possível morrer sem sentir dor?
E quando tudo acaba, o que acontece?
A simples existência é mais complexa
Do que simplesmente existir para conseguir tocar piano
E quando se toma por bosta
O que melhor de mim eu tinha a oferecer.